Assertividade é a palavra chave quando se trata da atmosfera de inovação e de alto investimento em que as startups estão envolvidas. Em um ambiente em que um erro pode custar o empreendimento toda equipe da startup, desenvolver e aplicar hipóteses se mostram como partes elementares para que todo esforço empreendido não seja em vão.
Um grande confusão comum entre startups é focar mais em soluções do que em problemas. E quando se foca somente na resposta singular de uma pergunta, deixa-se de lado as possibilidades e caminhos a serem tomados. Teoricamente, suposições para solução de problemas tendem a ser vagas e geralmente apresentam tons otimistas e previsíveis. Essas suposições não seguem nenhum percurso de teste, e geralmente são originárias de impulsos ou de visões incompletas do todo.
Deixando as incertezas de lado
No fim, todos querem ser os criadores de ideias que irão revolucionar algum aspecto de nossas realidades. Geralmente, essas ideias são revestidas por soluções muito simples, mas que ninguém havia percebido antes. Porém, o que poucos percebem é que, para se conseguir simplicidade e objetividade na resolução de um problema, é preciso, antes de tudo, destrinchá-lo. A solução se tornará mais clara à medida em que nos aprofundamos nesse problema.
Está ficando cada vez mais fora de moda a imagem romantizada do “momento Eureka”, em que alguém tem um insight genial sobre como solucionar um determinado problema e ganhar muito dinheiro com aquilo. Isso já não é suficiente para que um negócio alavanque. A criatividade e a genialidade de uma ideia são menos valiosas para o impulsionamento de um negócio do que o desenvolvimento de planejamento e execução eficientes.
A noção de superação presente em narrativas hollywoodianas pode ser muito útil em palestras de motivação ou auto ajuda, mas fazem com que o papel do empreendedor em um negócio de sucesso esteja limitado a surtos de inspiração no meio da madrugada. Além disso, não deixa clara a necessidade de pesquisa, preparo, observação e interação, que é imprescindível quando se trata da estruturação de um negócio.
O feeling pode até se mostrar correto no futuro, mas é preciso substituir sentimentos por números, por estatísticas, por coisas concretas. Não basta criar um plano de negócios pensado detalhadamente em todas as etapas, assumindo como imutáveis as resoluções para cada etapa. Um rápido cálculo de probabilidade indica os infinitos caminhos que um plano de negócio pode atingir, caso alguma das suposições anteriores não siga o caminho imaginado.
O processo de levantar hipóteses como passo primordial no desenvolvimento do negócio foi consolidado pela metodologia Lean Startup, de Eric Ries, que indicou uma série de etapas que devem ser cumpridas até a validação de um negócio. Uma das características mais presentes nessa metodologia é o apanhamento de informações junto aos clientes e sobre o funcionamento daquele mercado, que ocorre logo nos primeiros passos.
O teste de uma hipótese é tão relevante porque se utiliza de condições reais para validar uma ideia. Consideramos hipóteses: afirmações, ou grupo de afirmações, que propõem respostas ou soluções para um determinado problema. As respostas ou soluções devem conter dados mensuráveis, que possam ser colocados em números.
Quais perguntas?
Os princípios básicos da estrutura de qualquer narrativa, seja a de uma reportagem jornalística ou até de uma pesquisa científica, se utiliza de algumas perguntas básicas para começar o processo de investigação: como? quando? onde? por quê? A essência dessa sequência de questionamentos é mantida quando aplicada ao mundo das startups. Obviamente essas perguntas foram se aperfeiçoando conforme foram sendo testadas, e, por fim, modificadas.
Um bom modelo de fluxo de perguntas/questionamentos é o seguinte:
“Acreditamos que [a proposta do negócio ou ideia]
Irá resultar em [tais consequências]
e saberemos que tivemos sucesso quando [ valores mensuráveis, como x > y, ou z%]”
A partir dessas afirmações, é possível mensurar com precisão a proposta, as consequências e o sucesso da ideia.
Os experimentos diferenciam ideias de hipóteses. Uma ideia surge da pura imaginação, sem necessariamente tendo compromisso com a realidade. As hipóteses lidam com precedentes, com noções da esfera material, e por isso são muito mais interessantes de se trabalhar. Uma ideia é uma série de hipóteses ainda não testadas.
Ao trabalhar com a formulação e verificação de hipóteses, a empresa otimiza seu tempo, seu capital, e energia despendida em cada projeto. Estes, inclusive, são os principais pilares da “Startup Enxuta/Lean Startup”, apresentados por Ries. O argumento é o de que, ao elaborar e testar hipóteses, a startup possa focar no que realmente possibilita tração aos seus negócios.
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